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Liderança e Resultados sob a Ótica da Gestão de Riscos

Resumo

  • Foi Vilfredo Pareto (1848-1923) quem lançou a teoria do desequilíbrio da riqueza mundial

  • Joseph Juran (1904-2008) expandiu a teoria de Pareto para as organizações ao afirmar que 20% das causas geram 80% dos efeitos

  • Apesar da forte concentração das causas que geralmente se observa nos sistemas organizacionais, Juran adverte para que as outras causas não sejam abandonadas sem uma análise criteriosa

  • Um exemplo destas “causas menores”, são os quase-acidentes com alto potencial (HPI, High Potencial Incident) que, embora não tenham consequência material visível, não devem ficar fora das ações prioritárias – algo para que Bird e Germain também nos alertaram (em 1969!)

  • A utilização de recursos em itens sem relevância pode comprometer os resultados da Gestão de Riscos, levando à constrangedora reincidência de acidentes, mesmo com investimentos sendo aplicados na área

  • É fato que o orçamento é algo limitado. Se a Gestão de Riscos quer ser efetiva mesmo com orçamentos justos, precisa usar a priorização para eleger onde devem ser colocados os recursos

  • Outra premissa de um bom processo de priorização é a capacidade de apontar as causas corretas. Neste momento, os programas Kaizen e as análises de causa-raiz bem feitas mostram mais uma vez seu valor

  • Execuções bem feitas também são decisivas para o sucesso da estratégia. De que adiantam 10 placas de “ESTACIONE DE RÉ” se não há procedimento confiável de abandono de área?

  • No fim das contas, é a velha e boa ideia de custo x benefício que aparece nas entrelinhas

Literatura recomendada

  • Sobre Pareto e Juran: a literatura nacional tem poucas opções, mas quase tudo o que você encontrar na internet em português vale a pena. Sugiro visitar os sites abaixo e depois, caso você se interesse, seguir as referências:
    pt.wikipedia.org/wiki/Joseph_Moses_Juran
    pt.wikipedia.org/wiki/Vilfredo_Pareto

  • Juran – a lifetime of influence [em inglês]
    Autor: John Butman
    Editora: Wiley

  • Desafio aos Deuses – uma história do risco
    Autor: Peter Bernstein
    Editora: Elsevier

Por que você estaciona de ré?

Imagine a cena: você chega com seu carro ao estacionamento de uma empresa. Exatamente como faria no shopping ou no supermercado, você mira a dianteira do seu veículo para uma vaga mais ou menos perto da portaria e... surpresa! Do nada, aparece alguém gesticulando energicamente um “não”, enquanto aponta para uma placa – que você não havia notado – instruindo que os veículos sejam estacionados de ré. Depois, quando você finalmente chega à portaria, outra surpresa: não há o menor sinal de organização e você fica pensando como seria o plano de abandono de área daquela empresa. A cena lhe parece familiar? Então, afinal, para que serve estacionar de ré?

Antes que você responda...

...vamos voltar um pouco no tempo, para a época de Vilfredo Pareto (1848-1923), um engenheiro, economista, filósofo e político nascido na França e radicado na Itália. Após realizar um estudo sobre a distribuição de renda, Pareto concluiu que 20% da população concentrava 80% da riqueza mundial. Este estudo, inicialmente publicado em 1909 e mais tarde batizado como “Lei de Pareto”, teve pouca aplicação prática inicial, mas o legado de Pareto (que vai muito além desta lei) é considerado como um dos mais importantes da Economia.

 

Na época em que Pareto viveu não havia dados suficientes para uma afirmação tão precisa a respeito da riqueza mundial – mesmo assim, a equação criada por ele mostrou-se mais tarde incrivelmente próxima da realidade. Independentemente da exatidão da proporção, foi a contribuição de Pareto para o estudo da desigualdade na distribuição de renda que acabou inspirando outro engenheiro a aprofundar-se na ideia do desequilíbrio das causas em relação aos efeitos.

 

Foi só em 1941, mais de três décadas após a primeira publicação da Lei de Pareto, que um Engenheiro Eletricista romeno (mas radicado nos EUA) chamado Joseph Juran Moses (1904-2008) resolveu expandir a ideia da desigualdade da distribuição de renda, afirmando que, nas organizações, 20% das causas são responsáveis por 80% das consequências. Desta vez, tendo as organizações como foco, a utilidade prática da Lei de Pareto pôde ser testada quase imediatamente.

 

Então, a partir dos anos 50, o “Princípio 80-20” (nome dado por Juran à Lei de Pareto), foi aplicado com sucesso a vários processos organizacionais. Se você já usou a Curva ABC, por exemplo, aplicou as ideias de Pareto e Juran. Aliás, o nome Juran talvez lhe pareça familiar – especialmente se você trabalha na Gestão da Qualidade, área pioneira na aplicação do conceito de 80-20. Juran, junto com Deming, foi uma das maiores inteligências a serviço da Qualidade em toda sua história. E uma das lições que Juran nos deixou fala sobre um conceito fundamental para a gestão: a priorização, que em termos gerenciais significa a ordenação das causas segundo o critério de importância das suas consequências.

 

E se levássemos o conceito de priorização à área de Gestão de Riscos? Como se revelássemos um filme, passaríamos a enxergar claramente que há iniciativas (programas, adequações, treinamentos etc.) que geram mais resultados que outros. Se aceitarmos o fato (fato da vida, é bom que se diga) de que não é possível realizar tudo ao mesmo tempo, a priorização se transforma num elemento-chave para o planejamento estratégico da sua Gestão de Riscos. A habilidade de priorizar, portanto, é decisiva para que os recursos, sempre escassos (às vezes disputados a tapa) sejam investidos nos pontos que, de fato, terão efeito no resultado da sua gestão, não importa em qual área. Na Gestão de Riscos não é diferente.

 

E mesmo com todos os valores e princípios que embasam os programas de Segurança, não há razão para deixar de utilizar ferramentas de priorização para a Gestão de Riscos, colocando certos programas e iniciativas no topo da lista, enquanto outros aguardam com menor prioridade. É muito melhor do que disparar para todo lado, dando a impressão de desorientação estratégica e miopia gerencial, com resultados ruins e acidentes que insistem em se repetir, apesar dos recursos (tempo, dinheiro e esforço) aplicados.

 

Voltando ao estacionamento: se sua resposta para a pergunta foi “para sair mais rápido na emergência”, você acertou boa parte da resposta. A outra parte seria “ajudar a evitar colisões entre veículos”, já que quem sai da vaga com o veículo de frente para o trânsito teria, supostamente, uma visão melhor. Sobre este assunto das colisões, diga-se de passagem, há uma discussão cheia de prós e contras na internet, mas não existe, que eu saiba, uma estatística séria. A verdade é que, com ou sem pesquisa, a experiência mostra que, para muitas empresas, faz pouca diferença estacionar de frente ou de ré. Para outras, pode ser a diferença entre um acidente e uma tragédia. Para estas, demarcar o estacionamento e colocar as placas é só o começo -  para dar sentido à coisa, é preciso ir muito além.

 

Fica a reflexão sobre a importância de atribuir prioridade a qualquer programa, iniciativa ou investimento, tomando por base os esforços necessários e seus efeitos. Isso é fundamental para o sucesso da sua Gestão de Riscos e inclui os estacionamentos de ré (não vejo nada de errado com eles, desde que façam sentido e sejam bem executados), programas de inspeção, treinamentos ou aquisição de equipamentos de segurança... Tudo precisa de priorização que, por sua vez, depende de análises de perigos e riscos eficazes e estudos de causas-raízes bem feitos, conduzidos por equipes multidisciplinares e experientes. Profissionalmente, como gestor de riscos, se eu tivesse a opção de implementar o estacionamento de ré, eu o faria? Sendo prioritário, sem dúvida que sim. Pessoalmente, como cidadão, sigo estacionando de ré sempre que vejo sentido ou há uma regra a seguir.

 

É isso por hoje, pessoal. Muito obrigado pelo seu tempo, até mês que vem.

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